terça-feira, 18 de abril de 2017

Texto de Abertura da Biblioteca 2017

Olá, comunidade guerreira!

Finalmente nossa biblioteca começará os atendimentos às turmas deste ano! Demoramos um pouco para abrir, e para quem não sabe, nos explicamos: além de termos começado esse ano conturbado com muita falta de professores (tivemos que priorizar as aulas em detrimento dos setores, entre eles, a biblioteca), também houve modificações estruturais e reorganizamos alguns assuntos nas prateleiras. Esperamos que a nova organização agrade e seja incentivo para mais gente ler ainda mais!

Então, começamos esse ano com uma contação de histórias sobre direitos humanos, adaptada aos pequenos, aos grandinhos e aos professores, respectivamente. Depois traremos mais sobre isso, no momento vamos trazer aqui um texto que faz parte dessa contação, adaptado e resumido, do site da Revista Fórum,onde se pode ler o texto completo.


Seu dedo apertou o gatilho: 

o sonho acabou


Professor faz relato emocionante sobre a morte de Maria Eduarda, adolescente executada com três tiros pela Polícia Militar dentro de escola no Rio de Janeiro

Por Alcidesio Júnior*
maria-eduarda
Hoje foi executada com três tiros, pela Polícia Militar, um na cabeça, um na nuca e outro nas costas, uma menina de 13 anos. Dentro da escola, em aula. Não é a primeira e não será a última. Morreu com black na cabeça, camisa e bermuda do uniforme da prefeitura do Rio de Janeiro, e um tênis rosa. Sem mochila ou celular, pois estava indo beber água. Jogava vôlei, ganhou por isso uma bolsa para ir para um colégio particular como aluna atleta, como diversos outros alunos do colégio conseguiram. Fruto de um trabalho maravilhoso dos professores de Educação Física, a menina começou a ter sonhos. O colégio foi o melhor da CRE, venceu jogos e campeonatos contra colégios particulares, trouxe 9 medalhas das 10 modalidades que participou no ano passado. Foi o destaque. Ela era da equipe. Mas, morreu.
(...)
Eu sairia as 16:20, estava com a turma de 6º ano. Ouvi três tiros de pistola. Coloquei todos sentados e em silêncio em local seguro. Ouvi mais rajadas de fuzil. Gritos. Controlando a turma, boatos vinham, diziam: menina baleada. Disse a turma que iria averiguar e eles esperassem. Concordaram. Um funcionário, pai de aluna, que veio três vezes a turma, (...) estava no corredor. Perguntei a ele o que realmente havia acontecido, ele pegou no meu braço e disse: (...) Olhe ali embaixo. Vi o corpo e a poça de sangue. Morta. Voltei a turma. Confirmei o boato. (...) Na primeira pausa do tiroteio (...) os alunos foram liberados para casa. Mas a troca de tiros, não parou. (...) Muita dor, revolta, desespero, ajuda… gás de pimenta, coquetel molotov, tiros, fogos, gritos…muitos gritos. Muita gente desesperada, muita gente desmaiando. O inferno. Fogo na rua, barricadas, ônibus e carros queimados. Tiros. Execução sumária. Revolta. Justa revolta. E nós, professores e funcionários, ali. Muito ódio. Justo ódio. E ela, morta.
Esta política de “combate às drogas”, mata. Morre policial, morre traficante, morre inocente. Lucrando com ela, uma minoria de Políticos e “Empresários” da “boa sociedade”, que fornecem armas e drogas para os dois lados. Vendem a ideia de que vivemos em uma “guerra”, para atuarem livremente. Encontram eco nos discursos conservadores que dizem que “bandido bom é bandido morto”, que “favelado é criminoso”, que “direitos humanos só servem pra proteger bandidos”, que a “polícia deve ser justiceira contra bandidos”… Se você defende isso, parabéns!, seu desejo foi realizado: seu dedo ajudou a puxar o gatilho do fuzil que matou Maria. Ela virará estatística: mais uma preta, pobre e favelada que morreu. Junto com ela o humano deste ser. Nesta lógica do olho por olho, ficamos todos cegos.
A família gritava: “a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro matou minha irmã “; “a favelada que estuda, tá aqui morta, enquanto isso, aquela criminosa foi solta pra cuidar do filho dela”; “queria ver se fosse na Zona Sul, se isso aconteceria, se as pessoas seriam tratadas assim”. O que dizer? Justo. Muito justo e lúcido.
Muitas coisas me doeram hoje. (...) Mas nada se comparou a dor sentida ao ler a mensagem que recebi do professor que mudou o colégio com sua nova forma de organizar a Educação Física, dando esperança a dezenas de alunos-atletas, que até então eram apenas “péssimos alunos” ou “projeto de marginais”: “Obrigado, Júnior. Mas a minha pergunta é: do que adiantou eu ajudar ela a sonhar?”
* Alcidesio Júnior é professor da Escola Municipal Jornalista Daniel Piza


Outros livros usados nessa contação:





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